shyness

Você fala alto, gesticula exageradamente, faz piadinhas sobre qualquer coisa. Não tem vergonha de vestir o que der na telha, assume seu estilo (o que inclui até roupas e acessórios extravagantes). Canta na rua, no elevador e até dança se precisar. Sorri para as pessoas e puxa papo com estranhos na fila do mercado, do café. Na escola, os professores sempre o consideraram um pessoa bem desinibida (até demais da conta) assim como seus pais e familiares.

Esta é a minha descrição. A típica descrição de uma pessoa extrovertida. E é o que eu acreditei ser até então, pois como cresci assim, não faria sentido ser outra coisa. No entanto, de uns tempos para cá, eu comecei a prestar mais atenção no que as pessoas do meu convívio atual diziam sobre mim. E foi um choque descobrir que muitos me consideravam absolutamente o oposto do que eu acreditava ser.

De um tempo para cá, ouvi bastante “Joy, achava que você era metida antes de te conhecer” ou “você tinha um jeito reservado, como se evitasse proximidade” ou ainda “nunca ia imaginar que você era tão brincalhona e espevitada assim” e outras coisas do tipo. Como pode? O mais incrível é que todas essas pessoas são amigas das quais gosto muito e sempre curti a companhia. Até no começo, quando não tínhamos tanta intimidade e eu só estava quietinha, esperando meu momento de perder a vergonha e me sentir segura para poder interagir e …

EPA! Para tudo! Eu, que nunca me considerei retraída, acabei de falar em ter vergonha e necessitar de mais intimidade para ter coragem de interagir com os outros. Isso não tem nada a ver com a descrição de uma pessoa expansiva. Não seriam esses exatamente esse os traços de uma pessoa tímida?

Matei a charada: sou tímida. Só não tinha me dado conta disso. E não sou pouco tímida. Sou bem tímida mesmo, daquela que não consegue nem balbuciar uma palavra na rodinha de bate-papo se não conhecer profundamente seus componentes.

E o pior não é ser tímida. É ser, muitas vezes, mal interpretada. Timidez pode ser confundida outras coisas, inclusive com altivez ou arrogância.

Imagina só, eu, grandona (para quem não sabe, sou alta) e sempre vestida “diferente”, chegando nos lugares e rapidamente indo em direção um cantinho para me abrigar, dando um breve oi só para as pessoas que conheço. Quem não sabe como sou, pode muito bem pensar: “aff, que menina metida, não quer papo, não dá trela para ninguém!”. Só que o que ocorre internamente é exatamente o contrário. Lá no fundo estou eu, vendo todo mundo confraternizar e morrendo de vontade de participar, porém contida por uma vergonha imensa e um sentimento de “ai, será que eles querem falar comigo?” ou “será que não vou me intrometer?”. Para mim, a convivência social muitas vezes parecem um eterno jogo de pular corda, no qual eu nunca sei a hora de entrar.

Outro caso corriqueiro: a pessoa vem puxar papo e me inclui no grupinho da conversa, mas eu sempre acho que estou sobrando ou que se eu abrir a boca vou falar asneira demais. Até permaneço no meio, como uma estátua. Raramente digo alguma coisa, só escuto e concordo com a cabeça. Pareço até aqueles cachorrinhos de colocar no carro, sabe? Devem me achar uma baita duma chata ou alguém que não gosta de dividir coisas e experiências. Mas socorro, é o inverso! Eu quero muito conversar, brincar, rir e me relacionar com todo mundo, mas a tal da timidez (que eu não sabia que tinha) só me atrapalha. O que parece falta de interesse, convencimento e antipatia, na verdade é só eu lá ansiosa por dentro, esperando só um momento propício, de terreno seguro, para começar expressar minhas opiniões e deixar transparecer meus trejeitos.

Aí vem outra pergunta: como pode alguém que cresceu como a rainha da extroversão ter se tornado tão tímida? E o mais curioso: como pode a mesma pessoa ser considerada extremamente brincalhona, piadista e desinibida por alguns e tão quietinha e “na dela” por outros?

Bem, talvez uma psicóloga consiga responder essa pergunta melhor, mas eu chutaria que no meu caso este comportamento remonta a uma fase que passei lá no início da adolescência, em que sofri um bullying cruel e sangrento ao mudar de colégio. Resumindo (bem resumidamente mesmo): cheguei toda feliz, saltitante e “eu”, de coração aberto e levei um baita de um cartão vermelho, que me fez repensar duas vezes antes de me expor ao chegar em um ambiente novo. Vendo hoje, foram só bobeirinhas sem sentido e importância, mas na época, para a minha estrutura, foi devastador. Desde então, minha vida tem sido vivida totalmente na defensiva. E totalmente contra a minha vontade, pois prezo mais do que nunca a naturalidade e espontaneidade nas atitudes (creio que este meu lado permaneceu forte, somente as relações interpessoais foram afetadas – infelizmente).

Nunca fiz terapia, nunca trabalhei o ocorrido. Só agora, muitos anos depois, é que fui perceber o que este episódio pode ter ocasionado em minha vida. Mas OK gente, eu estou muito bem… é só essa timidez que incomoda!

A parte boa é que, se eu detectei esse traço em mim, agora terei a possibilidade de fazer algo a respeito. Sei que esta não é uma barreira que se quebra tão fácil assim, mas pode ter certeza que vou procurar melhorar. Não quero mais deixar de aproveitar nada por isso. Afinal, o que é a vida senão a surpresa da convivência com as pessoas que ela nos apresenta?

Alguma tímida (ou não tímida) de plantão pode me dar umas dicas?

28/07/2015

amor

Eu o amo porque nos damos bem juntos. Uma descrição genérica, assim parece simples, não?

Mas, vamos lá… Amo ele porque podemos nos ver dia após dia, porém, se passamos algumas horas separados já sentimos saudades. Amo poder passar horas e madrugadas a fio ao seu lado, pesquisando sobre qualquer assunto mirabolante na Wikipedia, seja sobre os czares russos ou a origem de um nome qualquer (que nem mesmo ninguém em nossas famílias possui). Amo o fato de que podemos, sem nem se quer dizer uma frase, ter conversas complexas e expressar opiniões, somente com um olhar. Amo o jeitinho que ele encosta a cabeça no meu ombro para descansar. E a quentura do seu corpo quando repouso sobre o ombro dele. Amo porque ele me olha e sempre me olhou, desde a primeira vez, de um jeito que só ele sabe e ninguém nunca mais fez nem fará igual.

Poderia ficar enumerando as mais diversas qualidades, mas cheguei a uma conclusão de que meu amor é muito mais do que isso. O amor de verdade vai muito além do elogio e do concordar, ultrapassa barreiras que nós mesmos estipulamos, mas, quando percebemos, já estamos arrebatados.

Eu amo mais ainda quando ele discorda de mim (e ele é o mestre nisso), justamente porque ele tem argumentos para discordar. Seria impossível viver ao lado de um ser sem argumentos, então deixo ele lá esbravejando até tentar provar o seu ponto, por mais que muitas vezes seja só por teimosia e eu tenha uma certeza irrefutável (e científica) de que ele não tem razão nenhuma. Ah! A teimosia… Eu amo demais também, porque o conheço tão bem que já prevejo sua reação e, quando ela acontece, eu acho muito engraçada, porque é algo sempre muito típico dele. Mesmo dorminhoca como sou, amo até quando ele me acorda no meio da madrugada para comentar alguma coisa corriqueira, sem a mínima urgência… só pelo fato dele querer compartilhar comigo.

As coisas que poderiam me incomodar, na verdade, viraram motivo de crises de riso. E cada vez mais me divirto com o básico, com o dia a dia. E, só eu sei que, quando eu rio dele, desmonto qualquer jeito de durão. Já li e conheço de cor o seu manual… e ele se derrete por saber que eu o conheço tão bem. E o que poderia ser desacordo vira motivo para abraços e carinhos! Tem como não amar?

12/06/2015

gostei-e-agora-sobre o direito da estrela de todo mundo brilhar

Li uma frase muito sábia esses dias: “as pessoas querem te ver bem, mas nunca melhor que elas”. A primeira análise tendi a concordar, mas com um pouco de reflexão logo surgiram ressalvas. Não seria cruel demais crer que vivemos num mundo onde sua felicidade e bem estar incomodam, mesmo que sem querer? Além do que, não soaria um pouco convencido, egoísta e até vitimista achar que todos querem te ver pelas costas, sem mais nem menos, como se não existissem coisas mais importantes para se preocuparem na vida do que com você?

O que acontece então nesse planeta? O que gera tanta hostilidade gratuita (essa sim, cuja existência não podemos negar)?

Minha cabeça não parou até eu chegar a uma explicação plausível: a convivência entre as pessoas é uma guerra de egos. E não por nossa vontade, é porque simplesmente todo mundo precisa ver sua estrela brilhar. Todo mundo quer se afirmar, se sentir bem, se sentir amado. É a sobrevivência! E, a princípio, não há nada de errado nisso, todos tem o direito de se sentir bem e feliz.

A questão é que tudo isso acontece em um mundo com muitas regras, várias imposições. Normas criadas para tentar regulamentar esse desejo do ser humano de estar acima, de ter, de possuir. Seja permitindo ou limitando, afinal, um certo balanço tem que ser mantido.

Porém, em uma realidade onde já recebemos um roteiro pré-estipulado de tudo que é certo ou errado, muitas inseguranças surgem. Será que eu posso fazer isso? Será que é certo? Eu quero… mas será que vão aprovar?

Alguns tem coragem e dão sua cara a tapa nessa sociedade. Muitos o fazem na inocência, outros enfrentam demônios pessoais e familiares para conseguir se libertar e mostrar ao mundo quem realmente são. No entanto, esta decisão nunca é gratuita. Está afetando a ordem das coisas. Agir pela própria vontade pode ter como consequência um dos maiores pecados da humanidade: se sobressair.

“Não. Não pode! Quem você pensa que é para ter feito isso? Se alguém tem o direito de se sobressair aqui sou eu, não você. Você não pode ter feito algo melhor do que eu. Você não pode ter aquilo que eu ainda não tenho. Simplesmente não! Volte para o seu lugar. Volte a ser exatamente o que eu queria que você fosse”.

O ser humano reage extremamente mal ao sucesso do próximo. A sucesso me refiro simplesmente ao fato de algo dar mais certo do que o esperado, longe de entrar âmbito da celebridade. O êxito de quem está longe não incomoda, já que não interfere em sua vida pessoal, não lhe mostra nada sobre o seu cotidiano. Mas o que dói mesmo é ver alguém de seu convívio conquistar algo que você ainda não possui. Mesmo sem você querer, isto joga na sua cara que você também teria condições de ter feito o mesmo, mas nem tentou ou desistiu perante as dificuldades ou somente que você também gostaria de estar recebendo a luz dos holofotes, mas não está. Às vezes, até coisas que não gostamos ou desejamos geram incômodo, só pelo fato da pessoa ter tido coragem de realizá-las. E não estou falando “nossa, como as pessoas são más”, pois muitas vezes não temos culpa. Não temos como controlar nossos instintos mais básicos.

Qual a solução? Na melhor das hipóteses, se afastar daquilo que lhe causa o incômodo. Na pior, acionar a artilharia e massacrar a atitude alheia, na intenção de extinguir aquele foco. O fato é que nenhuma dessas reações é nobre. E são totalmente desnecessárias. Inveja, mesmo que inconsciente, é o sentimento mais inútil que existe. Há um jeito muito melhor e construtivo de lidar com essas particularidades tão humanas.

Ao invés de tentar apagar a estrela alheia, por que não mostrar o que tem de melhor dentro de você, fazendo a sua brilhar tão forte o quanto? Afinal, o que é mais belo? Uma única estrela num céu escuro ou uma noite estrelada espetacular, daquela de encantar os olhos?

Talvez essa seja a fórmula para um mundo melhor: uma sociedade-constelação.

Dizem que somos feitos de estrelas…. então vamos todos brilhar!

26/05/2015